Por Daniel Christian Henrique e João Carlos Prats Ramos (bolsista Pibic de pesquisa)
Segundo relatório da Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina desenvolvido pela Epagri/Cepa (2021), no ano de 2020 o valor da produção agropecuária (VPA) no estuado obteve crescimento nominal de 21% em relação a 2019, alcançando a cifra de R$ 40,9 bilhões. Deste total, 23% foram relacionados à produção de carne suína, seguido por 17,5% da produção de frangos e 12% de produção de leite. Com este crescimento, o estado se consolida ainda mais na liderança nacional de produção desta proteína e em sua presença nos mercados internacionais frente sua expansão em 35% das exportações desta commodity em 2020.
Em consonância a este aumento, adveio também o aumento dos custos da produção de suínos, contabilizando uma elevação cumulativa de 4,78% entre janeiro e março de 2021. Se somar o fato de que o acumulado total de 2020 foi de 48,78%, desde o início da pandemia já há um percentual total de 53,56%. Parte significativa deste aumento é atribuída às elevações dos preços dos grãos que servem de nutrição aos suínos, próximo a 80% do custo total de sua produção (EMBRAPA, 2021). Os grãos mais comuns para uso no consumo de suínos é o milho e a soja.
Frente ao estado de Santa Catarina ser líder nacional na produção desta proteína e seu grande peso nas exportações do agronegócio nacional, é pertinente analisar a cointegração entre as séries temporais do milho, da soja e da carne suína, a fim de analisar o quão impactante pode ser essas elevações no preço. Os dados foram coletados no Cepea/Esalq (2021) com periodicidade mensal nos últimos dez anos (janeiro de 2011 a março de de 2021). Em seguida foram configurados em retornos via diferença em logaritmos naturais. A cointegração de Johansen foi o método escolhido frente ao período temporal mais extenso e ausência de estacionariedade das séries em nível, porém estacionárias em primeira diferença. Como última etapa foi criado um vetor de correção de erros (VEC) a fim de averiguar os impactos das elevações dos custos do milho e da soja no preço da carne suína em Santa Catarina.
A primeira possível cointegração analisada foi entre as séries de retornos do milho e da carne suína, com aplicação do teste de Johansen. Os resultados demonstraram ser possível refutar a hipótese nula de não há nenhuma equação de integração, ou seja, de que r = 0 e não há cointegração, considerando-se os seguintes valores críticos para os limites de 1%, 5% e 10% de significância:
The value of the test statistic Johansen is: 45.6618; Null Hypotese: r = 0 | ||
10pct | 5pct | 1pct |
13.75 | 15.67 | 20.20 |
Em conformidade a presença de uma equação de integração entre as séries, aplicou-se o IRF no VEC:
Nota-se que uma elevação no preço do milho (e seu retorno), eleva o preço do suíno (e retorno) até quase fim do terceiro mês à frente, ingressando a seguir em redução de seu preço e retorno da carne suína até o quinto mês à frente quase retomando seu patamar inicial de preço próximo ao nono mês futuro.
Tomando-se agora os retornos dos grãos de soja, os mesmos procedimentos foram instaurados para o teste Johansen:
The value of the test statistic Johansen is: 48,1321 ; Null Hypotese: r = 0 | ||
10pct | 5pct | 1pct |
13.75 | 15.67 | 20.20 |
Observa-se também a refutação da hipótese nula de ausência de equação integradora pelo valor crítico do teste estar acima dos valores críticos a 1%, 5% e 10% (não é análise em percentuais). Portanto, ao menos uma relação de integração é pertinente entre as mesmas, auferidas no IRF a seguir visto:
Interessantemente, nota-se que a elevação dos preços e retornos dos grãos de soja não impactam demasiadamente os retornos dos suínos por até três meses adiante, porém gerando até uma pequena elevação a partir do quarto mês, mas não muito significativa, retornando quase ao nível inicial de preços próximo no oitavo mês futuro projetado.
Uma possível explicação para o fato do milho incorrer em impactos mais expressivos nos retornos dos suínos e a soja não ser tão relevante é uma provável integração entre os preços dos dois tipos de grãos, confirmada a seguir no teste de cointegração de seus retornos no gráfico IRF do VEC:
The value of the test statistic Johansen is: 38,4359; Null Hypotese: r = 0 | ||
10pct | 5pct | 1pct |
13.75 | 15.67 | 20.20 |
Pode-se perceber claramente a forte integração entre os grãos: uma elevação nos retornos do milho gera forte queda até três meses adiante nos retornos da soja, mantendo-se neste patamar. Já a elevação da soja eleva no próximo mês o preço do milho, mas já em seguida perda de rentabilidade nos próximos meses.
Referências:
EMBRAPA. Embrapa Suínos e Aves. Disponível em: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/custos/icpsuino. Acesso em: 16 abr. 2021.
EPAGRI/CEPA. Síntese anual da agricultura de Santa Catarina 2019-2020. Florianópolis: Epagri/Cepa, 2021. Disponível em: https://docweb.epagri.sc.gov.br/website_cepa/publicacoes/Sintese_2019_20.pdf. Acesso em 16 abr. 2021.