Por Daniel Christian Henrique, Luiz Ricardo Mendes da Silva e Ivan Aune de Aguiar Filho (bolsista de extensão Probolsas)
O GPFA iniciou um estudo comparativo relativo a evolução do impacto gerado pelos rendimentos domiciliares per capita do programa social Bolsa Família (ou Antigo Auxílio Brasil) no rendimento domiciliar médio per capita dos brasileiros (clique aqui para ler), por Unidades de Federação. No primeiro estudo comparou-se essa relação entre os anos 2012 e 2019. Na sequência, em 2020, o mundo adentrou no estado de emergência sanitária em âmbito global, com isolamentos sociais, aprofundamento da pobreza e recessão em todo o mundo. Neste período vigorou-se no Brasil um programa social substituto, o Auxílio Emergencial - gerado em decorrência do fechamento de inúmeros setores econômicos e elevação do desemprego. Seu alcance de beneficiários foi muito superior ao Auxílio Brasil (UOL Economia). Passado, enfim, todo o período de pandemia, e já com o ritmo de empregabilidade crescendo semestre após semestre, voltando a patamares pré-pandemia (e não que fossem altos ou bons...), torna-se oportuno fazer mais um comparativo, agora, com o ano de 2022 – quando já estava revogado o Auxílio Emergencial e retomado o Auxílio Brasil, adjunto às reduções necessárias dos beneficiários do programa anterior.
Em 2022 foi instaurado um amplo afrouxamento das restrições sanitárias, assim como foi decretado o fim da emergência global advinda do vírus da Covid-19. Cabe lembrar que neste mesmo ano ainda vigorava o governo federal do mandato anterior, o qual chamavam este programa social de Auxílio Brasil.
Outro dado importante referente a 2022: bateu seu recorde na transferência de renda pelo programa no mês de dezembro, alcançando 21,6 milhões de famílias beneficiadas que receberam recursos totais da ordem de R$ 13 bilhões, gerando uma renda média domiciliar de R$ 607,14 para as famílias contempladas. Complementarmente, o Auxílio Brasil recebeu um aumento em agosto, chegando a R$ 600,00. Dentre os meses de Janeiro a Julho o valor do benefício era de R$ 400,00 (Correio dos Municípios, UOL Economia).
A região nordeste foi a que obteve o maior número de famílias beneficiadas (9,9 milhões), seguido por Sudeste (6,46 milhões), Norte (2,62 milhões), Sul (1,46 milhão) e Centro-Oeste (1,15 milhão) (Correio dos Municípios). Em termos percentuais, o ano de 2022 recuperou o alcance que tinha dez anos antes: exatos 16,9% de famílias com algum beneficiado pelo programa em 2022 contra 16,6% em 2012 (Piauí), assim como em 2022 aumentou-se a participação dos programas de transferência de renda na renda média mensal per capita, chegando a 4,6% contra 4% em 2021 (UOL Economia).
Nesta contextualização, o GPFA ingressará com seu estudo contributivo, relacionando as seguintes variáveis do IBGE coletadas para o ano de 2022:
- Variável Dependente (Y): rendimento domiciliar per capita média total por Unidades de Federação, a preços médios do ano (IBGE, 2023a)
- Variável Independente (X): rendimento médio mensal real domiciliar per capita, daqueles que recebem o Bolsa Família, por Unidades de Federação, a preços médios do último ano (IBGE, 2023b).
A métrica abordada foi a regressão simples, com eliminação de um outlier: o Distrito Federal (DF), frente a seus rendimentos muito superiores às demais unidades da federação, ocasionando problemas na normalidade dos resíduos da equação. Os resultados obtidos foram:
Equação Preditiva:
Nota-se que a equação tem boa qualidade, com aprovação de seus coeficientes e passando no teste F. O grau de ajuste pelo R2 foi de 72,99%, considerado excelente frente a abordagem exclusivamente de variáveis socioeconômicas. Todavia, merece atenção também a aprovação de seus resíduos:
Os gráficos e os testes apontam normalidade dos resíduos da equação. Portanto, não há nenhum impeditivo ao seu uso para predição.
Inicialmente, é importante destacar que o rendimento médio domiciliar per capita por Unidades de Federação (a preços médios do ano e desconsiderando o DF), aumentou 19% em 2022 no comparativo a 2021 (IBGE). E, novamente em 2022 nota-se a presença de um efeito alavanca em que os rendimentos domiciliares aumentam mais que proporcionalmente a cada R$ 100,00 (ou R$ 1,00) de aumento no auxílio governamental. A melhor compreensão recai no efeito em cascata que os gastos com alimentação e demais itens e serviços de consumo essencial ocasionam em toda sua cadeia de produção nacional, elevando o PIB nacional.
CONCLUSÕES:
- Observando os valores do coeficiente beta da variável independente da equação encontrada, para cada R$ 1,00 de aumento dos rendimentos domiciliares per capita daqueles que receberam o Auxílio Brasil em 2022, acarretou-se um aumento de R$ 3,68 no rendimento médio domiciliar per capita dos brasileiros.
- Comparativamente a 2019, houve uma leve retração. A regressão desenvolvida para 2019 apontou uma elevação de R$ 3,96 no rendimento médio domiciliar per capita (GPFA) frente a R$ 1,00 de ganho dos rendimentos domiciliares per capita daqueles que receberam o Auxílio Brasil (terminologia do período).
- Comparativamente a dez anos atrás, 2012, nota-se que ainda não se alcançou o mesmo patamar de impacto nos rendimentos totais. No citado ano, a equação preditiva apontava um aumento de R$ 3,75 no rendimento médio domiciliar per capita (GPFA) para cada R$ 1,00 de ganho dos rendimentos domiciliares per capita daqueles que receberam o Bolsa Família (terminologia do período).
- Isto posto, passado o período crítico da pandemia e retomada das atividades presenciais em 2022, o Auxílio Brasil manteve seu papel de auxílio às populações mais vulneráveis após a extinção do Auxílio Emergencial, mas precisará de mais algum tempo para o incremento na renda média per capita dos anos pré-pandemia.
- Observando os valor médio de todos os meses do ano de todas Unidades da Federação, exceto o Distrito Federal, a elevação foi de 19% em 2022 no comparativo a 2021.
Neste ano de 2023, com a volta da nomenclatura Bolsa Família pelo novo governo eleito, manteve-se seu valor em R$ 600,00, mas com ampliações: um adicional de R$ 150,00 por criança de até seis anos - máximo de dois adicionais (Exame). Portanto, estudos futuros serão desenvolvidos pelo GPFA a fim de observar se estes complementos irão recompor o padrão de elevação dos rendimentos médios per capita totais da população brasileira.
Referências: Correio dos Municípios, Exame, IBGE (a), IBGE (b), IBGE(c), GPFA, Piauí, UOL Economia.
Como citar este estudo? (padrão ABNT)
HENRIQUE, Daniel Christian; MENDES-DA-SILVA, Luiz Ricardo; AGUIAR-FILHO, Ivan Aune. Impacto do Bolsa Família (Auxílio Brasil) na renda domiciliar média per capita dos brasileiros em 2022. 2023. Desenvolvido por GPFA - Grupo de Pesquisa em Finanças Analíticas. Disponível em: https://www.gpfa.com.br/informes/auxilio-brasil-2022. Acesso em: (data de seu acesso ao site).