29 May
29May

Por Daniel Christian Henrique e Lucas Ferreira Mazagão

Previamente o GPFA havia iniciado um estudo sobre o relacionamento dependente entre os preços das cestas básicas nas capitais brasileiras com os rendimentos médios de seus trabalhadores, abordando sua causalidade ao longo do tempo e sua consequente defasagem temporal através do uso de vetores autorregressivos (VER RESULTADOS CLICANDO AQUI).

Este informe mantém a continuidade e atualização deste estudo, porém agora abordando dados cross section apenas para 2022 e consequentemente sem análises de atrasos nos impactos. As cotações das cestas básicas foram obtidas no Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), enquanto os valores dos rendimentos médios reais mensais das pessoas (acima de 14 anos) foram obtidos no IBGE (Instituto Brasileiro de Economia e Estatística). Cabe destacar que nesta variável não ingressam rendimentos provenientes de programas sociais como o Auxílio Brasil, Bolsa Família, BPC-LOAS, aposentadoria ou pensão do Plano de Saúde da Seguridade Social (ou planos de previdência), seguro desemprego, pensão alimentícia, doação, bolsas de estudo, recebimento de aluguel ou qualquer renda de aplicações financeiras. Para configuração desta análise em específico para o ano de 2022, a metodologia escolhida foi a regressão simples, validada pelos testes de seus coeficientes, da equação (F) e normalidade dos resíduos.

Cabe destacar alguns pontos que contextualizam a situação dos rendimentos dos trabalhadores e dos preços das cestas no referido ano de estudo, ambos amplamente divulgados na mídia econômico-financeira assim como por departamentos de pesquisas e estatísticas, tornando esta análise pertinente:

  1. As flexibilizações sanitárias tiveram forte avanço em 2022, possibilitando a retomada das atividades em vários setores que ficaram estagnados em 2021, principalmente o de serviços, aumentando a empregabilidade e consequentemente elevando o número de assalariados com renda disponível (GPFA b; GPFA c)
  2. Apesar da renda média do trabalhador ter caído 7% entre 2021 e 2022, a soma dos rendimentos de todos os trabalhadores em 2022 atingiu R$ 261,3 bilhões, contabilizando uma alta de 6,9% em relação a 2021, batendo o recorde da série histórica em decorrência do aumento da população ocupada (Agência Brasil).
  3. O rendimento médio real dos trabalhadores brasileiros em 2022 foi de R$ 2.500, enquanto que o rendimento médio real dos trabalhadores nas capitais foi de R$ 3.290,00, cerca de 34% superior (IBGE).
  4. Em 2022 os preços das cestas básicas subiram em todas as capitais da federação ocasionadas por fatores de demanda e oferta (Dieese, GPFA c)
  5. O controle da inflação é o ponto central dos debates econômicos atuais, no qual busca-se um equilíbrio entre aquecimento e desaquecimento da economia dentro de um ponto de equilíbrio no qual não se perca o controle inflacionário, mas também permita-se que as pessoas obtenham rendimentos para suprir suas necessidades - mas sem gerar demanda excessiva em alguns setores chaves (não elevando os preços e a inflação, por consequência). Neste contexto, os preços das cestas básicas tornam-se um ponto crucial de análises nos controles inflacionários pelos governos (mas claro, não somente este).
  6. No contexto inflacionário, vem a ser importante ressaltar que em 2022 houve alta no preço da gasolina, chegando em média a R$7,39 o litro, de acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo), fator que influencia na cadeia de abastecimento de produtos (incluindo os componentes da na cesta básica). 
  7. Em 2022, o dólar encerrou cotado a R$5,28, ainda influenciado pela crise causada pela pandemia, de forma que a retenção de produtos agrícolas no território brasileiro se tornou mais dispendiosa, colaborando com o aumento dos preços (InfoMoney). E, por consequência, também na elevação dos preços dos produtos da cesta básica.
  8. Compõem a cesta básica os seguintes produtos: Carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café em pó, banana, açúcar, banha/óleo e manteiga (DIEESE). Desta forma, qualquer alteração na estrutura produtiva dos alimentos mencionados altera o preço geral da cesta.

Contextualizada a situação de oferta e demanda que envolve os preços das cestas básicas, é pertinente perguntar: o fato dos salários médios reais dos trabalhadores das capitais serem 34% superior aos dos demais assalariados do Brasil em 2022 teria gerado uma demanda excessiva, vindo a ser o principal elemento do aumento dos preços das cestas básicas nas capitais no período?

Resultados

Compreendido o contexto, a relação causal proposta entre as variáveis foi:

X = rendimento médio real dos trabalhadores nas capitais (IBGE)

Y = preço das cestas básicas nas capitais (DIEESE)

Para encontrar a melhor relação, foram testados as regressões: linear, exponencial, logarítmica, polinomial e de potência. Os resultados ficaram relativamente semelhantes, recorrendo ao modelo de menor erro como vencedor:

MODELOEAMEQMEPAM
Linear31,96222551684,606730,05018733
Polinomial32,23423271674,68510,05018544
Logartímico32,88043751779,65530,052021
Exponencial47,16809093047,250340,07037584
Potência32,67396241735,831040,05141049

EAM: Erro Absoluto Médio; EQM: Erro Quadrático Médio; EPAM: Erro Percentual Absoluto Médio

Nos resultados obtidos, houve um melhor ajuste com menores erros para o modelo linear, outro para o polinomial e empate entre ambos no Erro Percentual Absoluto Médio (EPAM). Portanto, abordou-se a técnica linear, frente a possibilidade de análises da normalidade de seus resíduos sem maiores problemáticas. Gráfico, equação preditiva, testes de coeficientes, teste F e resultados da normalidade em sequência:

A equação preditiva obteve aprovação dos seus coeficientes, assim como da validade de sua equação pelo seu valor F, seguido por um R2 com 66,12% de capacidade explicativa. Seus resíduos apresentaram normalidade decorrida sua aprovação no teste Qui-quadrado, ao superar o nível de significância de 5% e atingir 28,19%.

Conclusões

Pelo fato dos rendimentos médios reais dos residentes nas capitais serem 34% superior aos dos assalariados (IBGE) de todo o Brasil, foi pertinente perguntar: tal elevação impactaria demasiadamente nas elevações dos preços das cestas básicas das capitais advindas de uma possível maior demanda? Neste estudo pôde-se constatar que em 2022, uma simulação de aumento em R$ 100,00 no rendimento médio real dos brasileiros residentes nas capitais através da equação de regressão linear obtida, ocasionaria um aumento das cestas básicas das capitais somente de R$ 7,46.

Portanto, em 2022, os aumentos dos rendimentos médios reais dos trabalhadores das capitais geraram algum aumento de demanda e consequentemente também tiveram relação com os aumentos dos preços das cesta básicas destas cidades. Porém, frente aos expressivos aumentos do valor de suas cestas no referido ano, foi um fator de demanda menor em comparativo a outros de origem micro e macroeconômica, ao impactar na elevação em apenas R$ 7,46 nos preços das cestas.

Tomando como referência a cidade de São Paulo, por exemplo, o relatório de dezembro de 2022 do Dieese aponta que o preço da cesta básica na capital passou de um valor médio de R$ 654,70 em 2021 para R$ 762,23. Portanto, um aumento de R$ 107,53. Segundo este estudo aqui realizado, um suposto aumento de R$ 100,00 nos rendimentos médios de seus trabalhadores assalariados ocasionariam apenas uma elevação de R$ 7,50 nos preços das cestas, restando explicar os outros R$ 100,00 de sua elevação - relativas às demais variáveis que não ingressaram neste estudo.

Outros principais responsáveis pelos aumentos das cestas acima da inflação, segundo apontamentos disponíveis no mesmo relatório, pelo lado da demanda foram: ausência de politicas de estocagem, de subsídios e de incentivo a agricultura familiar. No sentido contrário, os fatores mais citados relacionados à oferta para elevação dos preços das cestas foram: guerra entre Rússia e Ucrânia, encarecendo o trigo e óleo de girassol, encarecimento da produção do leite no campo, aumento dos preços dos fertilizantes, clima secoelevadas taxas de câmbio - favorecendo as exportações.

Findada as conclusões, cabe destacar novamente que análises de demanda nos diversos setores chaves da economia carecem de análise e são necessárias para um adequando entendimento do comportamento inflacionário.

Referências: ANP, IBGE, Dieese (a), Dieese (b), Agência Brasil, Infomoney, GPFA (a), GPFA (b), GPFA (c)

Como citar este informativo? (padrão ABNT)

HENRIQUE, Daniel Christian; MAZAGÃO, Lucas Ferreira. Elevação dos preços das cestas básicas nas capitais brasileiras em 2022: gerada pela demanda dos maiores rendimentos médios de seus assalariados? 2023. Desenvolvido por GPFA - Grupo de Pesquisa em Finanças Analíticas. Disponível em: https://www.gpfa.com.br/informes/alta-precos-cestas-basicas-capitais. Acesso em: (data de seu acesso ao site).

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.