Por Daniel Christian Henrique
O Brasil ainda é forte dependente da importação de diesel (cerca de 25% a 30% do que precisa). E piora: 70% das importações neste ano vêm da Rússia - que está em guerra e sob fortes sansões comerciais. E piora mais: as sansões por lá geraram escassez interna no país e decidiram cortar as exportações, incluindo para o Brasil (Correio Braziliense). E piora ainda mais: a Opep+ e Rússia reduziram a produção de barris de petróleo em setembro (EPBR). Previsão 1: vai sobrar para a Petrobras reajustar seus preços nas refinarias. Previsão 2: e vai sobrar mais ainda para o bolso do consumidor pagar mais caro pelo diesel nas bombas e pressão sobre a inflação até o fim do ano.
Essa foi uma das notícias mais divulgadas no mês de setembro nos noticiários financeiros: a carne chega ao menor preço dos últimos cinco anos (2018) e volta a primeira colocação da proteína mais consumida pelos brasileiros (Portal Correio). No acumulado de janeiro a julho, houve uma queda de 9,3%, segundo registro do IPC - Índice de Preço ao Consumidor da Fipe. As maiores reduções foram, respectivamente: alcatra (-11,50%), filé-mignon e contrafilé (-10,17%), acém (-8,49%) e picanha (-7,88%) (Canal Rural (b)). A disponibilidade per capita (kg/hab./ano) chegou a 30,5% em julho, equivalente a patamares pré-pandemia (Conab). Essa maior oferta de carne bovina no mercado interno refletiu ainda na arroba bovina, que regrediu 30% desde início de janeiro (Diário do Nordeste).
Mas calma aí... apesar das reduções, não significa que está com preço baixo... para muitos brasileiros continua alta e as demais proteínas como ovos, frango, peixe e suínos se manterão no cardápio do dia, intercalando agora com a carne bovina (Portal Correio).
A reunião do mês de setembro do COPOM pelo Banco Central manteve o anunciado na reunião anterior quando ocorreu a primeira baixa da Selic, efetivando mais um corte de 0,5 p.p. e por decisão unânime desta vez. Portanto, finalizou em uma taxa de 12,75%. A promessa de novos cortes se manteve para as próximas reuniões, mas com uma nota de ressalva na ata deste mês dando um puxão de orelha no governo para cumprir as metas fiscais, a fim de que as expectativas de inflação fiquem dentro do esperado. Assim cada um faz sua parte! (Infomoney). Bom, a população continua na expectativa de match perfeito entre BC e Governo, não sobrando para seu bolso.
Com o início do ciclo de baixas da Selic esperava-se um retorno gradual de muitos investidores ao mercado de capitais. Mas logo após o primeiro corte na reunião anterior anunciado pelo Banco Central, algumas empresas já estão fazendo captações bilionárias por meio de debêntures. Eletrobrás angariou R$ 7 bilhões; TIM e Aegea captaram igualmente a marca dos R$ 5 bilhões. No total, até agosto obteve-se R$ 110 bilhões em debêntures. Apesar das altas, ainda não chegará no patamar de 2022. Precisará esperar as próximas reuniões do Copom (Estadão). Com o novo corte deste mês, esses valores vão subir, assim como é esperado um maior volume de negociações na B3.
O crescimento do setor de serviços vem com grande impulso desde o pós-pandemia, conforme já destacamos em vários boletins, e continua ganhando espaço. No comparativo a junho, avançou 0,5% em julho, segundo dados informados pelo IBGE neste mês de setembro. O maior responsável foi o setor de transportes de cargas, que cresceu 5,8% dentre maio a julho - chegando no valor recorde de sua série histórica. O gerente da pesquisa explica que a migração das lojas físicas para remotas gerou um boom no transporte rodoviário de cargas, só perdendo ainda para as safras recordes de milho e soja (IBGE (a)). Em tempo: nossas precárias rodovias irão acompanhar esse aumento de demanda crescente por transporte de carga?
O Projeto de Lei 4258/23 foi levado à Câmara dos Deputados neste mês de setembro, levando adiante o propósito previamente anunciado antes de acabar com a dedução dos Juros sobre Capital Próprio no cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da Contribuição Social a partir do ano que vem. O resultado previsto é a elevação da carga tributária para as empresas e aumento de arrecadação na ordem de R$ 10,5 bilhões em 2024 (Agência Câmara de Notícias). Os investidores que investem mais no médio e longo prazo e sempre comparavam os valores de JCP e dividendos das empresas para ver qual valia mais a pena, comecem a refazer as contas! Acompanhem o desenlace dessa mudança nos próximos informes - isso vai render muita discussão ainda...
Primeiro de setembro demarca o início do ano agrícola 2024. Assim a safra finalizada em 31 de agosto apontou pelo segundo ano consecutivo o Brasil como líder na exportação de milho, além da já tradicional liderança na soja, superando os EUA. O Brasil contabilizou 32% das exportações de milho, enquanto EUA ficou bem mais atrás com 23% (Revista Oeste).
A produção agrícola de algodão do Brasil é a segunda maior do mundo, perdendo somente para os EUA - que por sua vez foi atingido por forte seca, o que pode favorecer as exportações das plumas de algodão tupiniquins. A previsão é exportar 3,2 milhões de toneladas - uma elevação de 23% em relação a safra anterior, embarcando 11 milhões de fardos de algodão. A severa seca possibilitou que apenas 11% da safra de algodão norte-americana fosse classificada como boa (AgroMais).
Definitivamente o Brasil não pode fazer guerra com ninguém! Nosso Agro abastece parte expressiva do mundo e ninguém fica sem nossas commodities. A carne suína chegou a uma média acumulada no ano de 100,9 mil toneladas nos embarques para exportação, o recorde de sua série histórica (Canal Rural (a)).
E com tamanho volume de exportação da soja e do milho, somado às fortes volumes também da carne, café e minério de ferro, o Brasil obteve o recorde de sua série histórica de superávit comercial para o mês de setembro, iniciada em 1989. Uma queda generalizada em todas áreas de importações contribuíram também para a arrecadação de um saldo tão expressivo (Diário de Pernambuco).
E o mercado imobiliário de luxo é quem está se dando bem com tamanho volume do agronegócio batendo recorde depois de recorde e, obviamente, catapultando muitos fazendeiros ao patamar de milionários. Goiânia, sendo a coração do agro no Brasil, foi impactada em cheio: estão desembarcando na capital do pequi residenciais imobiliários e comerciais de altíssimo padrão. O sudoeste goiano caminha no mesmo sentido, com cidades pujantes do agro como Rio Verde, Jataí e Mineiros, porém mais focados em empreendimentos "somente" de alto padrão (!) e upgrades nas residências (RepórterMT, O Popular).
A prévia da inflação de setembro medida pelo IPCA-15 ficou em 0,35%. Porém com dois contrastes: uma elevação um pouco mais expressiva de 2,02% nos Transportes e uma queda de -0,77% no segmento de Alimentos e Bebidas. Esse é o quarto mês seguido de queda deste segmento, batendo o recorde de sua série histórica de baixas. As safras recordes de grãos gerando maior oferta no mercado interno e a queda dos preços da alimentação no domicílio foram os principais responsáveis pela baixa do segmento no mês (IBGE (b)).
Já o IGP-M da FGV contabilizou inflação semelhante, igual a 0,37%, porém foi a primeira alta depois de vários meses de deflação, que vinha se somando desde março. No acumulado do ano a deflação ficou em 4,93% (Correio do Brasil).
No trimestre móvel encerrado em agosto, a taxa de desemprego obteve mais um leve recuo no comparativo ao trimestre móvel anterior (-0,1%) e chega no menor valor desde 2015, com um percentual de 7,8%, segundo dados divulgados em setembro pela PNAD Contínua do IBGE. Em valores brutos, a população desocupada no mercado de trabalho chegou a 8,4 milhões, ou seja, 528 mil pessoas a menos no comparativo ao trimestre anterior (Jornal do Comércio).
Com a maior estabilização da renda e do emprego no pós-pandemia somado a queda consecutiva no preço dos alimentos, aumentou-se consequentemente o consumo, com os brasileiros acrescentando mais itens da cesta básica na alimentação diária. Houve uma alta de 2,58% no consumo entre janeiro a agosto de 2023 (Estado de Minas)
Em maio divulgamos que o pagamento por Pix já havia superado os demais meios de pagamentos em 2022. Agora, neste mês de setembro, superou seu próprio recorde ao registrar 152,7 milhões de transações em um único dia - 06 de setembro (Agência Brasil).
Durante todo o mês de setembro a pesquisa semanal do Boletim Focus do Banco Central registrou previsões de aumento do PIB para fim de 2023 (fechando em cinco altas consecutivas, agregando a última semana de agosto). Na última semana, saiu de 2,89% para 2,92%. Já 2024, nada muito otimista, previsão de crescimento somente de 1,5% (Banco Central).
O imbróglio da recuperação judicial da Saraiva se arrasta. Agora, aquela que já foi a maior varejista de livros do país, anunciou em 21 de setembro que fechará suas últimas cinco lojas físicas. Motivo: houve queda de 60% do faturamento destas em comparação ao ano passado (Gazeta de S. Paulo). A marca Saraiva não parece aquela típica marca que foi tão forte no passado que no futuro reabre e pega novamente?!
A greve iniciada em 15 de setembro do sindicato Trabalhadores Automotivos Unidos (UAW) norte americano está afetando não só as montadoras da terra do Tio-Sam, mas a brasileira Gerdau também - que precisará reduzir sua produção de aço por lá, afetando consequentemente a lucratividade de sua unidade norte-americana (Correio do Brasil).
Referências: Agência Brasil, Agência Câmara de Notícias, AgroMais, Banco Central, Canal Rural (a), Canal Rural (b), Conab, Correio do Brasil, Correio Braziliense, Diário do Nordeste, Diário de Pernambuco, EPBR, Estado de Minas, Estadão, IBGE (a), IBGE (b), Infomoney, Jornal do Comércio, O Popular, Portal Correio, Revista Oeste, ReporterMT, Gazeta de S. Paulo.