Por Daniel Christian Henrique
B3 desaba em junho e recupera em julho
Em junho a ameaça de uma recessão global continuou rondando a B3, retraindo seu índice em 11% e gerando um acumulado de baixa no ano de 5,94%. A situação piora somado às tensões do mercado interno com a possível quebra do teto de gastos e aumento da inflação com a votação da PEC dos Combustíveis. O temor de recessão financeira mundial também sondou o índice norte-americano S&P500, amargando seu pior desempenho trimestral desde 1970. Consequentemente, o índice tupiniquim também acompanhou sua queda e volatilidade. Essa foi a segunda maior queda do Ibov desde o início da pandemia, em março de 2020, quando o Ibov despencou 29,9%. O volume de negociações do mês sofre uma redução de 25,1%, comparando-se ao mesmo mês de 2021 (EXAME, 2022a; ISTO É DINHEIRO, 2022a).
O fechamento de julho, todavia, surpreendeu e reverte a situação, fechando em alta de 4,69%. A PEC dos combustíveis foi aprovada, gerando maiores temores na bolsa, mas a arrecadação fiscal de julho foi boa, arrefecendo os ânimos. A reação das empresas de varejo, tecnologia e construção civil performaram bem no mês, pois estavam altamente descontadas até junho frente às constantes elevações dos juros básicos (E-INVESTIDOR, 2022a).
Enfim, baixas nos preços dos combustíveis
A gasolina e o etanol reduziram nos postos de combustíveis das cinco regiões do país em julho na comparação a junho após a lei que limita de 17% a 18% a alíquota do ICMS sobre os combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte público. O preço médio da gasolina caiu 14,01% nos postos do país e ficou em R$ 6,50 em julho (INFOMONEY, 2022b).
O óleo diesel, no entanto, essencial para movimentar a frota de caminhões de nosso país, pouco sentiu quanto ao efeito da limitação do ICMS até o fechamento de julho. Apenas nesta primeira semana de agosto a Petrobras anuncia uma redução no preço do diesel vendido às distribuidoras, chegando a R$ 0,20 o litro, equivalente a uma baixa de 3,57% (CORREIO DE MINAS, 2022). Para uma nação que priorizou o modal rodoviário para transporte de suas cargas via caminhões, é muito pouco essa redução, especialmente no bolso dos caminhoneiros.
De olho no recorde (1): saídas líquidas da caderneta de poupança
Não tem jeito. A poupança e a inflação não andam juntos. Somado a altos e constantes aumentos da taxa Selic, piorou. Os baixos ganhos que a aplicação na caderneta de poupança gera leva a um constante vai e vem entre suas entradas e saídas conforme os índices inflacionários e a Selic variam.
Finalizado o primeiro semestre em junho, a poupança conseguiu bater seu recorde de saques no período, gerando uma saída líquida de R$ 50,5 bilhões frente a seus baixos rendimentos de 6,17% ao ano (+TR). A inflação medida pelo IPCA, por outro lado, acumulou alta de 11,89% em 12 meses. Esses saques foram o maior valor registrado na sua série histórica desde 1995 (CORREIO BRASILIZENSE, 2022; EXAME, 2022b).
Mas o início do segundo semestre não fica para trás. O mês de julho já angaria o maior volume de saques de sua série histórica mensal, somando retiradas de R$ 12,7 bilhões no mês - equivalente a cinco vezes a mais que o anterior recorde de saídas em 1995, quando atingiu saques de R$ 2,45 bilhões. Agora, no acumulado do ano, contabilizou-se saídas totais de R$ 63,15 bilhões (INFOMONEY, 2022a).
De olho no recorde (2): deflação em julho!
Em junho a inflação ainda esteve alta, fechando o mês com elevação de 0,67%, puxada principalmente pela alimentação (com destaque à alimentação fora de casa) e planos de saúde, interrompendo o clico de baixa que vinha dos últimos meses anteriores. No fechamento do primeiro semestre de 2022, alcançou 5,49%.
Julho, porém, apresentou a grande surpresa! A prévia do IPCA-15 apontava uma pequena inflação de 0,15%, mas o resultado final do IPCA contabilizou deflação, com queda de -0,68% no índice. Essa queda foi fortemente puxada pela baixa de R$ 0,20 no preço médio dos combustíveis realizado pela Petrobras às distribuidoras e pela redução do ICMS. Como consequência, vários segmentos foram afetados direta ou indiretamente: transportes (-4,51%), habitação (-1,05%) e energia elétrica (-5,78%). Essa taxa negativa é o menor registro de toda a série histórica do IPCA desde 1980. Enfim, um recorde bom a ser comemorado! (CORREIO BRAZILIENSE, 2022b).
Mas, adicionalmente, para manter sua meta inflacionária do ano, o BC mantém seu procedimento padrão: aumento da taxa de juros básica da economia. Na sua reunião do Comitê da Política Monetária (COPOM) de junho, elevaram a taxa básica em 0,55 p.p., saindo de 12,75% a.a. para 13,25% a.a. (E-INVESTIDOR, 2022b). Iniciando agosto, em sua nova reunião, já houve nova elevação por decisão unânime para o valor de 13,75%, justificado principalmente pelas taxas inflacionárias ainda consideradas elevadas (apesar das reduções) e do ambiente externo perigoso e volátil (BCB, 2022). É o aumento dos juros para tentar conter a inflação e o contínuo de inflação elevada levando a novos aumentos dos juros!
Custos das cestas básicas aumentam
Com alimentação em alta no IPCA, consequentemente a cesta básica encarece. Adquirir o conjunto de alimentos da cesta básica custou mais caro em nove capitais no mês de junho. As maiores altas foram nas seguintes cidades: Fortaleza (4,54%), Natal (4,33%) e João Pessoa (3,36%). Em termos de valores em reais, os custos mais elevados foram registrados em São Paulo (R$ 777,01), Florianópolis (R$ 760,41), Porto Alegre (R$ 754,19) e Rio de Janeiro (R$ 733,14) (DIEESE, 2022a).
O mês de julho reverte em parte a situação: a cesta diminuiu seu valor em 10 das 17 capitais analisadas, despontando Natal (-3,96%), João Pessoa (-2,40%), Fortaleza (-2,37%) e São Paulo (-2,13%). Já as altas foram lideradas por Vitória (1,14%), Salvador (0,98%), Brasília (0,80%), Recife (0,70%),Campo Grande (0,62%), Belo Horizonte (0,51%) e Belém (0,14%) (DIEESE, 2022b).
De olho no recorde (3): carne bovina no menor consumo histórico
Recorde bom foi só o da deflação mesmo. Nos últimos dois meses tivemos outro recorde ruim em acompanhamento ao encarecimento da cesta básica: a redução do consumo de carne bovina - batendo o menor valor de sua série histórica (iniciada em 1996), alcançando 24,8 kg por pessoa. Comparando-se com o período pré-pandemia, o consumo por habitante ficava em 30,6 kg. Os principais responsáveis, dentre várias argumentações, está na alta dos preços advindas da pandemia e perda do poder aquisitivo da população, impulsionada ainda mais pelos altos valores dos índices inflacionários. Apesar de estimativas de aumentos da exportação em 15% neste ano, a produção de carne bovina é a menor dos últimos 20 anos frente a queda da demanda interna, principalmente (CONAB, 2022; CANAL RURAL, 2022).
Confiança aumenta para o comércio, serviços e indústria em junho, estabilizando em julho
O mês de junho consolidou a confiança nos três segmentos essenciais da economia. O ICOM (Índice de Confiança no Comércio) subiu 4,6 pontos no mês, atingindo 97,9 pontos, sua maior pontuação desde agosto de 2021. Em julho, porém, tem leve diminuição, finalizando o mês com 95,1 ponto (FGV-IBRE, 2022a; AGÊNCIA BRASIL, 2022b).
O ICS (Índice de Confiança nos Serviços), por sua vez, contabiliza seu quarto e quinto meses seguidos de alta. Seu valor alcançou os 98,7 pontos em junho, com alta de 0,4 ponto. E findou julho com 100,9 pontos, equivalente a uma alta de 2,2 pontos (FGV-IBRE, 2022b; ISTO É DINHEIRO, 2022c).
Finalmente, o ICI (Índice da Confiança da Indústria) também acompanhou o momento de otimismo subindo 1,5 ponto em junho, sendo esta a terceira alta seguida até o período, atingindo 101,2 pontos. A alta foi reflexo de aumento da confiança em 13 dos 19 segmentos da indústria. Porém, julho reverte para uma baixa de 1,7 pontos, finalizando o mês com 99,5 pontos. Esta queda pôde ser atribuída à nova elevação da taxa básica de juros e ao aumento da instabilidade política do país devido ao momento eleitoral (FGV-IBRE, 2022c; ISTO É DINHEIRO, 2022b)
Já na contabilização do ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial), a confiança aumentou em 20 setores da indústria (em todas regiões do país e portes empresariais) caindo em outros oito apenas. Os maiores destaques de alta foram para os produtos de borracha, de limpeza, perfumaria e higiene pessoal, e de produtos têxteis. Em julho, o índice não mudou, estabilizando em 57,8 pontos (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2022a, 2022b).
Mas... produção industrial cai...
Segundo a Agência IBGE de Notícias (2022), a produção industrial regrediu 0,4% em junho comparado a maio, acumulando uma queda de 2,2% neste primeiro semestre do ano. Comparado ao período pré-pandemia, falta a indústria recuperar 1,5% de aumento. Portanto, verifica-se que aumento de confiança não implica em aumento de produção, não ao menos de forma imediata.
Mas... desemprego tem nova baixa! Porém informalidade continua
As pesquisas de mercado já vinham notificando nos meses anteriores as melhoras nas reduções das taxas de desemprego, principalmente devido ao setor de serviços. Neste segundo trimestre houve ainda uma elevação de 2,5 milhões de pessoas ocupadas, retraindo a taxa de desemprego para 9,3% em junho (em dezembro contabilizava-se 11,1%). O número de pessoas com carteira assinada aumentou neste último trimestre em 1,4 milhão. Todavia, os pesquisadores da FGV-IBRE destacam que este salto ainda está mais vinculado à recuperação dos empregos formais perdidos no período do auge da pandemia, pois os problemas estruturais da informalidade no Brasil continuam (FGV-IBRE, 2022d).
De olho no recorde (4): endividamento das famílias no seu auge
Os meses de março e abril contabilizaram quebras de dois recordes seguidos de endividamento das famílias brasileiras, sejam dívidas em atraso ou não. Quando parecia que o fosso tinha chegado, o mês de julho desponta o percentual de 78%, o maior registro da série histórica iniciada em 2010. Pode piorar: esses aumentos vêm em consonância à elevação da fome e da pobreza no país, catapulados pela inflação, crise mundial, pandemia e ausência de políticas públicas agressivas para redução da desigualdade social (FGV-IBRE, 2022e).
Referências:
AGÊNCIA IBGE DE NOTÍCIAS. Produção industrial varia -0,4% em junho (2022)
AGÊNCIA BRASIL. Mercado financeiro reduz projeção da inflação de 7,30% para 7,15% (2022a).
AGÊNCIA BRASIL. FGV: confiança do comércio sobe 4,6 pontos em junho (2022b).
BCB. Copom eleva a taxa Selic para 13,75% a.a. (2022).
CANAL RURAL. Carne bovina: consumo no Brasil deve cair ao menor nível em 26 anos (2022).
CONAB. OFERTA E DEMANDA DE CARNES (2022).
CORREIO BRAZILIENSE. Com inflação alta, poupança tem recorde de saques no semestre (2022).
CORREIO BRAZILIENSE. IPCA registra deflação de 0,68% em julho com queda nos combustíveis (2022b).
CORREIO DE MINAS. Urgente: Petrobras volta atrás e confirma redução no preço do DIESEL (2022).
DIEESE. Custo da cesta aumentou em nove capitais (2022a).
DIEESE. Preços dos produtosIn natura reduzem custo da cesta (2022b).
EXAME. Ibovespa cai 11% em junho e tem pior mês desde o início da pandemia (2022a).
EXAME. Inflação de junho volta a subir e IPCA fecha em 0,67% com alta dos alimentos (2022b).
EXAME. Prévia da inflação fica em 0,13% em julho com desoneração dos combustíveis (2022c).
E-INVESTIDOR. Como o Ibovespa superou ‘tempestade perfeita’ e fechou julho no positivo (2022a).
E-INVESTIDOR. Selic em 2022 permanece em 13,75% e no fim de 2023 sobe para 10,50% (2022b).
FGV-IBRE. Confiança do comércio recua 2,8 pontos em julho (2022a).
FGV-IBRE. Sondagem de Serviços - Julho de 2022 (2022b).
FGV-IBRE. Sondagem da Indústria - Julho de 2022 (2022c).
FGV-IBRE. Blog da Conjunta Econômica: Dívidas sobem, renda cai (2022e).
INFOMONEY. Gasolina fica 14,01% mais barata nas bombas em julho, aponta levantamento (2022b).
ISTO É DINHEIRO. Volume médio diário de negócios em ações na B3 cai 25% em junho (2022a).
ISTO É DINHEIRO. Confiança do empresário da indústria sobe 1,5 ponto em junho (2022b).
PORTAL DA INDÚSTRIA. Confiança da indústria aumenta em 20 setores e cai em oito em junho (2022a).
PORTAL DA INDÚSTRIA. Confiança da Indústria fica estável em julho (2022b).