Boletim Finanças & Mercado - Janeiro de 2023

17 Feb

17Feb

Por Daniel Christian Henrique - Prof. Dr. na área de Engenharia Econômica (UFSC) / Economista (UNESP)

Selic x Inflação, o combate do mês

Eis um combate robusto. Há algum tempo o BC usa a velha ferramenta ortodoxa de aumento da taxa básica de juros para combater e estancar ao máximo a inflação. Na primeira reunião do COPOM do ano de 2023, deram sequência à mesma taxa das últimas reuniões do ano passado, mantendo no patamar de 13,75% a Selic para não aquecer demais a economia e gerar uma inflação de demanda (EXAME, 2023). Mas a política econômica desenvolvimentista do atual governo vê problemas nisso e pretende manter em negociação através da CMN (Conselho Monetário Nacional) essa taxa com o BC (que até ano que vem ainda atua de forma independente e define seu percentual) para possível redução, alguma flexibilização da meta inflacionária e estimular mais o empresariado a investir e gerar maior crescimento do PIB no curto e médio prazo (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2023; DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2023). Resultado dessa mudança? Acompanhem cenas dos próximos capítulos e resumos aqui em nossos posts.

Então, e a inflação no Brasil?

Falando no assunto, o mês de janeiro incorreu em 0,53% no IPCA, menor que as taxas de janeiro e dezembro de 2022, respectivamente em 0,54% e 0,62%. Com a nova alta dos preços dos combustíveis, o segmento de transportes foi um dos mais impactados no mês, com elevação de 0,55%. A maior alta, todavia, foi o segmento de Alimentos e Bebidas, com percentual de 0,59% (INVESTIMENTOS E NOTÍCIAS, 2023; AGÊNCIA BRASIL, 2023).

Inflação na zona do euro

Após recordes de alta da inflação na zona do euro em 2022, houve um início de processo de retração. A inflação anual móvel de janeiro caiu para 8,5%, abaixo das expectativas (chegou a bater os 10,6% em outubro). Novamente, é o preço da energia que vem comandando essas oscilações, ganhando reduções nos últimos meses (UOL ECONOMIA, 2023b).

Inflação no mundo e perspectivas de baixo crescimento

O relatório "Situação Econômica Mundial e Perspectivas para 2023" da ONU divulgado em janeiro aponta a projeção da inflação mundial para 6,5%, depois de ter atingido 9% em 2022. Mas isso não é sinônimo de volta do crescimento, pois a previsão é de apenas 1,9% para o crescimento mundial, contra 3% do ano passado (ONU NEWS, 2023). No Fórum Econômico Mundial que aconteceu em janeiro, 2/3 dos principais economistas participantes acreditam em provável recessão global em 2023, sendo que 18% consideram muito provável (INFOMONEY, 2023a).

Cesta básica concentra aumento no nordeste

Inflação por aqui caiu, mas a cesta básica que já vinha de aumentos em 2022 em todas as capitais, inicia 2023 com aumentos mais expressivos no nordeste: Recife (7,61%), João Pessoa (6,80%), Aracaju (6,57%) e Natal (6,47%). Dentre as 17 capitais da federação, houve aumento em onze em janeiro (DIEESE, 2023).

E já vamos de recorde em 2023: balança comercial

Recorde bom, é bem vindo. A balança comercial atingiu superávit de US$ 2,7 bilhões no mês de janeiro, recorde de sua série histórica iniciada em 2006. Ampliação das exportações das indústria extrativa e de transformação, assim como a agropecuária, foram os maiores responsáveis pelo valor atingido (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2023; ECONOMIC NEWS BRASIL, 2023)

Americanas derretendo e Magalu explodindo

Esse foi o principal assunto do mês nos mercados de capitais. Após o anúncio de um rombo de R$ 43 bilhões ocasionado por "inconsistências contábeis", as ações da empresa foram derretendo dia após dia, seguido de pedido de recuperação fiscal, sua exclusão do Ibov e inúmeros credores em pânico e indo à justiça. Muitos perderam, mas uma empresa se beneficiou muito: sua maior concorrente, Magalu. O mercado se direcionou para ela antecipando sua captura desta fatia de mercado solta, elevando sua cotação em 61,68% até fim de janeiro (E-INVESTIDOR, 2023; UOL ECONOMIA, 2023a).

Ibov com alta

Janeiro finalizou com alta de 3,4% puxado pela elevação dos preços das commodities em âmbito mundial e relativa queda da inflação mundial. Como nosso índice tupiniquim tem forte presença das empresas de nossas commodities, refletiu. A baixa da inflação no mundo também estimulou investimentos estrangeiros com maior perfil de risco, incluindo nossa bolsa de valores. A alta do Ibov apenas não foi maior devido ao capote da Americanas, levando junto à baixas nas ações dos seus bancos credores que compõem o índice (EXAME INVEST, 2023)

E o Bitcoin dispara

O Ibov subiu, mas não se compara a disparada do Bitcoin em janeiro. Catapultou quase 40% no mês, em dólar. Este foi o melhor resultado para janeiro dos últimos dez anos (MONEYTIMES, 2023).

Quebradeira à vista

Janeiro despontou com o maior índice de pedidos de recuperação judicial dos últimos anos. No total foram 92 empresas que pediram na justiça o adiamento de seus pagamentos aos credores. Isso representa um aumento de 90% em relação a janeiro de 2021 e de 37,3% a janeiro de 2022. Ainda, cerca de 2/3 são MPEs. Os pedidos de falência também já estão estourando, computando 72 pedidos no mesmo mês, uma alta de 57% em um ano, sendo cerca de 40% de MPEs. Os principais motivos são relacioandos aos fins dos estímulos governamentais e dos prazos de renegociações das dívidas ofertados no período da pandemia. Somado ao elevado patamar da taxa básica de juros, pode-se prever uma provável quebradeira por vir (SEU DINHEIRO, 2023; JORNAL CONTÁBIL, 2023).

Inadimplência acompanha

Não só os CNPJs estão em risco financeiro, os CPFs também. Janeiro de 2023 desbancou janeiro de 2018 no recorde de números de inadimplentes, passando de 59,3 milhões para 70,1 milhões. Para piorar, a dívida também aumentou, saindo de R$ 3.926,40 em 2018 para R$ 4.612,30 em 2023, uma elevação de 19%. De acordo com a Serasa, que divulgou os dados, os maiores responsáveis pelos aumentos foram (adivinha?): inflação, que diluiu o poder de compra dos brasileiros frente a sempre defasagem das correções inflacionários dos salários, somado a altas taxas de juros - que dificultou o acesso a crédito (INFOMONEY, 2023b, GAZETA DO POVO, 2023).

Carro novo ou usado? talvez nenhum

Conforme relatório da DataOLX, as elevações dos preços médios dos carros usados divulgados em sua plataforma entre janeiro do ano passado e deste, não foi pouca coisa: 9,8% - superando a inflação acumulada entre estes 12 meses. Considerando o preço médio de venda, aumentou 0,4%, frente as negociações entre vendedores e compradores. Os principais fatores que contribuíram foram as elevações dos preços dos carros novos, pandemia, guerra da Ucrânia que limitou os chips eletrônicos nos carros novos, elevações do dólar e desestabilidade econômica mundial, elevando a inflação no mundo (GARAGEM360, 2023).