Por Daniel Christian Henrique
O Real comemorou neste 1º de julho exatos 30 anos de aniversário. Sem dúvida, foi um ponto de virada para a economia nacional, associada a outras mudanças político-econômicas que se seguiram entre 1994 e 1998. Porém, em meio aos diversos preparativos das festanças deste plano que já vem ingressando na sua meia idade, um dado tem incomodou essa comemoração: o Real desponta como uma das moedas que mais se desvalorizou no mundo. Em abril, foi a moeda que mais se desvalorizou dentre os países do G20. Contabilizando o acumulado até fins de junho, o Real foi a segunda moeda que mais se perdeu valor no mundo, superando inclusive nossos hermanos da Argentina, que não vem passando por uma boa fase há tempos. A crise surge dentre um pool de motivos, sendo dois os principais: prorrogação dos cortes de juros pelo Fed, frente ao mercado de trabalho norte-americano aquecido e dos conflitos entre Irã e Israel; e, temores do mercado quanto ao cumprimento das metas fiscais pelo governo - mesmo após aprovação do arcabouço fiscal e meta de déficit zero (CNN Brasil, Seu Dinheiro).
Que o FGTS estava jogando contra o poder de compra dos brasileiros, todos já sabiam. Mas nada, de fato, havia sido feito. Enfim, neste mês de junho, uma ação lançada no STF em 2014 foi finalizada, aprovando uma nova forma de remuneração: mantém-se a Taxa Referencial + 3% a.a. como antes, mas agora com uma remuneração total ao ano com correção da inflação, medida pelo IPCA. A proposta original pedia uma correção equivalente a da poupança, mas não aceita frente a um rombo previsto R$ 8,6 bilhões aos cofres públicos. Cabe o destaque de que a decisão não é retroativa ao período anterior a esta (Gazeta do Povo, Forbes(a), InfoMoney(a)).
O segmento de planos de saúde tem experimentado flutuações em sua lucratividade e desafios imensos desde 2020, sempre ainda moldado pelos reflexos da pandemia da Covid-19. Após os lucros exorbitantes em 2020, chegou ao zero-a-zero em 2022, com aumentos amenos até 2023 (o GPFA realizou um estudo extensionista sobre o período, CLIQUE AQUI para ler mais).
Alcançado o ano de 2024, o acumulado do primeiro trimestre desponta uma nova alta nessa montanha russa: lucratividade de R$ 3,3 bilhões, muito superior aos R$ 1,2 bilhão do mesmo período de 2023. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os dados deste trimestre são superiores ao período da pré-pandemia. A principal razão dessa melhora foi a queda na sinistralidade diante do aumento médio das mensalidades oriundas dos ajustes inflacionários (Correio Braziliense(b)).
E as altas expressivas do dólar marcaram o primeiro semestre, e não dá sinais de trégua. Junho findou com uma cotação a R$ 5,56, com mais uma alta também em julho, chegando a R$ 5,67 - a maior cotação desde 10 de janeiro de 2022 (Ipeadata). Onde vai parar?
Em maio já havíamos destacado que o rombo fiscal do governo havia ultrapassado os valores da pandemia. Alcançado o mês de junho, as coisas foram de mau a pior... progrediu... O déficit nominal, ou seja, aquele que inclui a dos juros da dívida pública, acumulado em 12 meses, alcançou R$ 1,1 trilhão. Esse valor equivale a 9,92% do PIB. A dívida pública bruta para o mesmo mês foi... nada mais, nada menos... que 77,8% do PIB (8,7 trilhões) (Correio Braziliense(b)). Onde vai parar?
Em junho o Ibov conseguiu uma leve recuperação, fechando com alta de 1,48% (Suno), mas que só arrefeceu as quedas do primeiro semestre. Julho mantém o ritmo de alta, com valorização do índice em 3%. O principal responsável do mês foi o retorno gradual dos investidores estrangeiros após a fuga massiva para ganhos dos juros norte-americanos. Com as expectativas de retomada das baixas dos juros dos títulos públicos pelo Fed, os gringos já começam a antecipar seu apetite pelo risco e maiores ganhos na renda variável dos emergentes (e-investidor).
Em junho houve alteração no sistema de metas de inflação do BC. Não será mais preciso definir uma meta todo ano. A partir deste momento, a meta é contínua, ou seja, a inflação acumulada (medida pelo IPCA) é comparada mês a mês com sua meta e bandas de tolerância - sem precisar esperar o mês de dezembro de cada ano. O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta em 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (BCB(a), Agência Brasil).
Falando em inflação, o IPCA fechou junho com leve alta de 0,21%, puxado principalmente por elevações nos preços dos segmentos de Alimentos e Bebidas (0,44%) e de Saúde e Cuidados Pessoais (0,54%). O destaque das baixas foram os grupos de Transportes (-0,19%) e Comunicação (-0,08%) (IBGE(a)). Enquanto não é divulgada a inflação oficial de julho, vamos de IPCA-15 (a prévia): expectativa de alta de 0,30%, puxada com grande destaque pelo grupo de Transportes (1,12%), invertendo sua baixa do mês anterior. E o grupo de Alimentos e Bebidas, por sua vez, também cravou outra inversão, sendo agora o responsável pela única queda prevista dentre todos segmentos, com retração em -0,44% (IBGE(b)).
Na reunião do Copom de 19 de junho, as expectativas do mercado para o fim das baixas da Selic se concretizaram, o colegiado manteve em 10,5% a.a. a taxa básica de juros, com justificativas atreladas a desancoragem das expectativas de inflação, cenário global incerto, cenário doméstico com resiliência nas atividades e alta nas projeções de inflação (BCB(b), Exame). Chegou 31 de julho e a nova reunião do BC foi unânime em permanecer a taxa Selic em 10,5%, mantendo, inclusive, as justificativas em seu comunicado muito semelhantes às do mês anterior (Bloomberg Línea, Forbes(b)). Com isto, o Brasil permanece na segunda colocação da maior taxa real de juros do mundo, perdendo apenas para a Rússia (Agência Brasil(b)).
Referências: Agência Brasil(a), Agência Brasil(b), Bloomberg Línea, BCB(a), BCB(b), Correio Braziliense(a), Correio Brasiliense(b), CNN Brasil, e-investidor, Exame, Forbes(a), Forbes(b), Gazeta do Povo, GPFA, IBGE(a), IBGE(b), InfoMoney(a), Ipeadata, Seu Dinheiro, Suno.