01 Oct
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Por Daniel Christian Henrique

A jogatina descambou: Bets registram números de uma pandemia

Os dados são profundamente alarmantes e falam por si mesmos: contando os últimos cinco anos, há um total de 52 milhões de brasileiros que já realizaram alguma aposta esportiva nas bets. Destes, 84% têm dívidas e 64% estão negativados no Serasa; somente em agosto, os beneficiários do Bolsa Familia enviaram R$ 3 bilhões para as bets; nas famílias mais vulneráveis economicamente, o comprometimento da renda com bets chega a 10%; dentre os jovens, 35% dos que pretendiam entrar em uma faculdade, desistiram para apostar nas bets... (Inteligência Financeira, B3(c), Agência Brasil(b), UOL Economia(c), Infomoney(d)). 

A falta de educação financeira mais uma vez está pesando no Brasil. Uma parcela destes apostadores estão usando plataformas das bets como meios de "investimentos" e não de entretenimentos, deixando de lado as tradicionais rendas fixas ou mesmo as variáveis (Infomoney(d)).

O STF convocou audiência pública para o próximo dia 11 de novembro a fim de discutir o pedido realizado pela Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) da inconstitucionalidade da "Lei das Bets", criada no fim do ano passado (Correio Braziliense (27/09/2024). Se algo não for feito rapidamente, as consequências serão piores que a da pandemia da Covid-19 no Brasil...

Pegou: os FIIs ultrapassaram as ações na B3

Se no Brasil o mercado de ações continua no "rame-rame" entre expandir e retrair, conforme mudam os patamares de ganhos da renda fixa, atrelados às oscilações da taxa Selic, há um outro nicho de investimentos que vem ganhando força há alguns anos (apesar dos maiores ganhos da renda fixa) e "pegou" pra valer: os FIIs (Fundos de Investimentos Imobiliários). Neste ano, o total de FIIs listados na B3 já ultrapassou o de empresas listadas com ações (468 contra 445). Principal motivo: a mescla de isenção de IR com menores variações de valores, maior liquidez, pagamentos regulares de dividendos e com investimentos em imóveis (Exame, Valor).

O GPFA já está atento há alguns anos ao crescimento deste nicho de investimentos, quando realizou um estudo sobre a formação de um fundo de fundos de FIIs, publicado na renomada Revista de Contabilidade e Organizações da USP - Qualis A3 (CLIQUE AQUI PARA LER MAIS).

Arrecadação e rombo fiscal no recorde: aumenta um, aumenta o outro

Começaremos pela boa notícia: em agosto a arrecadação federal arrematou um novo patamar, alcançando R$ 201,6 bilhões e batendo o recorde para o mês da sua série histórica. Tais aumentos advieram das medidas arrecadatórias aprovadas no congresso, em especial as tributações dos fundos "offshore", retorno do PIS/Cofins sobre os combustíveis, mudanças nas subvenções aos estados e limitação ao pagamento de precatórios (Correio Braziliense).

A notícia ruim: o governo federal seguiu na passada dos períodos anteriores batendo novo recorde de seu rombo fiscal no mesmo mês: no acumulado dos últimos 12 meses até julho, o déficit nominal agora soma R$ 1,128 trilhão (contra 1,1 trilhão no acumulado até o mês de junho). Excluindo os juros da dívida pública, ou seja, analisando o déficit primário, foi levemente inferior no acumulado, saindo de um total de R$ 272,2 bilhões até junho, para R$ 257,7 bilhões até julho (B3(a), Gazeta do Brasil). A regra, então, seria: aumenta um, aumenta o outro?

Taxa de desemprego: no menor patamar (dependendo da contagem)

Enquanto o mercado segue com reticências quanto ao constante orçamento de receitas e gastos estarem caminhando conjuntamente no limite de forma muito arriscada, gerando apreensão de possíveis não cumprimentos das metas fiscais, o governo comemora a divulgação da menor taxa de desemprego de sua série histórica.

No trimestre findado em agosto, a taxa de desemprego recuou para 6,6%, segundo dados da Pnad Contínua do IBGE. O menor valor desde o começo de sua contabilização em 2012 (Agência Brasil(c), CNN Brasil). 

Cabe o destaque, todavia, que estes valores "escondem" outros, pois não contabilizam aqueles que desistiram de procurar emprego. Caso de muitos que obtêm ajudas financeiras do Bolsa Família e recorrem a trabalhos informais (até por não conseguirem os trabalhos formais) para complemento de suas rendas familiares. Somando os trabalhadores subutilizados na informalidade, dobra-se o percentual da taxa de desemprego (BM&C News, UOL Economia(d)).

Taxa Selic: a volta dos que não foram (1)

Apesar de muita pressão sobre o Banco Central de segmentos do mercado e do governo por redução ainda maiores da taxa básica da economia nacional, após estancar na reunião anterior as baixas que vinham ganhando força, nem deu... 

A taxa de desemprego na redução recorde, somada a aumentos médios da renda, levou o BC a ficar atento a possíveis elevações da inflação (CNN Brasil). O Copom confirmou, desta forma, suas novas expectativas de reversão para nova alta, elevando a taxa na reunião de setembro em 0,25 p.p., voltando a Selic aos 10,75% a.a. É a primeira alta desde 2022. E as expectativas, agora, são de consolidação novamente destas elevações, variando entre 0,25 p.p. e 0,5 p.p. (Correio Braziliense). 

Ibov: a volta dos que não foram (2)

A retomada de reinvestimentos na B3 que iniciou em junho manteve a força e gerou forte alta em agosto, com o Ibov conseguindo ganhos de 6,54%, mais que o dobro dos obtidos em julho (3,02%) (B3(b)). Esse otimismo levou durante o mês a quebrar por alguns dias sua pontuação máxima histórica, chegando em 28 de agosto ao máximo de 137.343 pontos (Infomoney(b), Yahoo Finance). Ficava a questão: neste novo momento, até quando será que os gringos esperariam para realizarem os lucros?

Resposta: não demorou muito. Até final de setembro a queda das ações do varejo com o novo ciclo de alta da Selic e as constantes discussões sobre o risco fiscal do Brasil levou a turma a botar tudo a venda e realizarem seus lucros possíveis, levando a uma perda no mês de 3,68% - simplesmente o pior desempenho dentre os índices do mundo no mês (Infomoney(c), UOL Economia(e)).

E nos investimentos, ficam os constantes recálculos comparativos dos ganhos entre a renda fixa e a renda variável, na tentativa de sintonizar a melhor relação risco x retorno. Como diz aquele velho ditado: Brasil não é para amadores!

Fed impacta o mercado: forte redução da taxa básica americana

A "super-quarta" deste mês de agosto mostrou um desvinculamento do Copom (Bacen) com o Fomc (Fed), movimento não tão comum ultimamente. Enquanto por aqui o movimento foi de volta da elevação dos juros, nos Estados Unidos houve o início de um reingresso à baixa de sua taxa básica: redução em 0,5 ponto, finalizando uma nova banda entre 4,75% e 5,00%. Esse percentual foi impactante no mercado, que esperava um menor percentual de redução. O Fomc justificou a decisão frente um forte alinhamento da meta de inflação, assim como pelo fato das metas de empregabilidade estarem equilibradas (Infomoney(a)).

Pix no recorde

A consolidação do pix como forma de pagamento já é inquestionável a algum tempo. Mas a troca por esse meio de pagamento foi mais rápida que se podia imaginar. No dia 06 deste mês de setembro, foram registradas 277 milhões de transações, o recorde diário desde sua criação.

Inflação tranquila

Em agosto, depois de 14 meses, o IPCA volta a registrar uma deflação, bem leve, mas ocorreu: -0.02%. O regresso foi possível frente a redução dos preços da conta de luz do mês (UOL Economia(a), IBGE). Enquanto não sai a inflação oficial de setembro, vamos de prévia: o IPCA-15, que alcançou leve alta de 0,13%, puxado pelo grupo de Habitação em 0,08 p.p. (Agência IBGE Notícias).

E as projeções?

Um dos principais objetivos do retorno das altas da Selic pelo BC foi a manutenção da proximidade à meta de inflação estabelecida. Projeta-se, então, alcançar dezembro com outras duas altas, fechando em 11,5%. O IPCA, por sua vez, continua estimado próximo a atual meta de 3% com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual. As previsões do PIB se elevam novamente, desta vez saindo do patamar de 2,96% para 3,2% (Correio Braziliense(27/09/2024), UOL Economia(b)).

Referências: Agência Brasil(a), Agência Brasil(b), Agência Brasil(c), Agência IBGE Notícias, B3(a), B3(b), B3(c), BM&C News, Correio Braziliense (23/09/2024), Correio Braziliense (27/09/20204), CNN Brasil, Exame, Gazeta do Brasil, IBGE, Infomoney(a), Infomoney(b), Infomoney(c), Infomoney(d), Inteligência Financeira, Valor, Yahoo Finance, UOL Economia(a), UOL Economia(b), UOL Economia(c), UOL Economia(d), UOL Economia(e)

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